terça-feira, 10 de maio de 2011


Prof. Dr. Geraldo Peçanha de Almeida - UFPR


Consórcio de Educação? A saída para educação no Brasil.



Um novo olhar sobre a viabilização de projetos educacionais.




Todo mundo já ouviu falar em consórcio alguma vez na vida.
Basicamente os consórcios garantem acesso a bens e a
serviços, a todos os seus consorciados em um prazo de
tempo relativamente menor, e o que é mais importante, a
preços bem mais atrativos. A justificativa é também óbvia,
repartindo os custos os consorciados se ajudam e com isto
acabam atingindo objetivos que poderiam ser impossíveis se
tentassem sozinhos. Pois bem, este é o principio de qualquer
consórcio.
Atualmente no Brasil há esta possibilidade de consórcios para
instituições, garantida a partir da constituição de 1998. São
incontáveis as iniciativas de consórcios de saúde
esparramados pelo país afora. Não são poucos os ônibusconsultório
que percorrem uma determinada região fazendo
consultas e exames especiais a usuários do sistema único de
saúde - SUS. Esses atendimentos seriam impossíveis se não
fossem tais consórcios. Ou, até poderiam ser possíveis, mas
para isto muito provavelmente este usuário teria que se
deslocar 500 ou até 800 km de sua residência rumo à capital
de seu estado para buscar tal atendimento: uma negligência,
senão um crime em termos de direitos, em termos de
cidadania. Os consórcios de saúde garantem não só
atendimentos em lugares com poucos recursos como também
devolvem dignidade aos usuários que necessitam
atendimentos especializados e que, através destas iniciativas,
podem tê-lo.
Claro que há consórcios mais estruturados, mais elaborados
e bem mais preparados que outros, porém, de forma geral
eles estão buscando possíveis saídas para garantir aquilo que
é de direito dos usuários do SUS. Isso tudo, (ou pouco
ainda), graças a gestores municipais que entendem e querem
operacionalizar este tipo de projeto em suas regiões.
No campo da educação os consórcios são quase inexistentes.
Há poucos deles esparramados pelo Brasil. O motivo é quase
sempre o mesmo: muitos municípios ficam esperando que um
dia instituições como PETROBRAS, BIRD, CAIXA e muitas
outras, batam à porta da prefeitura oferecendo-lhes dinheiro
para desenvolver um grande projeto. Isso é sonho! Na
prática as empresa poderiam investir muito mais em projetos
educacionais se as instituições educacionais as procurassem
com projetos pertinentes para cada uma de suas realidades
e, principalmente, com apontamentos precisos dos resultados
e das interferências positivas que estes projetos poderiam
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provocar nas comunidades. O desafio para os municípios
passa a ser: apresentar projetos comuns a determinadas
regiões, projetos sólidos que se sustentem naquilo que se
propõem. Para a elaboração destes projetos as junções de
forças políticas, intelectuais e sociais, em parceria,
elaborariam bons projetos para mudar certas realidades
cruéis país afora.
Este seria o primeiro passo. Cumprida esta etapa, passariam
todos à segunda - buscar parceiros que tivessem interesse
em patrocinar ou em participar, como parceiros, destes
projetos. E o que é mais surpreendente: há muitas
instituições interessadas neste tipo de ação. O problema é
que os projetos não existem, ou quando existem são
esdrúxulos ou não representam melhorias efetivas naquela
região. As instituições já entendem o que é responsabilidade
social e querem muito estar mais presentes nas suas
comunidades. Porém, elas são instituições não educacionais.
Elas possuem boa vontade e interesse, quem possui a
especificidade da educação me parece que são os gestores
dos processos educacionais, (ou não mais?).
São as instituições de ensino que precisam dizer, ou gritar:
nós precisamos disto, daquilo e muito mais. Um bom projeto
para se pensar em consórcio de educação tem que
apresentar, de forma clara, indicadores que poderão
mensurar criteriosamente a região e sua necessidade. Tem
que apresentar de forma consistente metas a serem atingidas
depois deste mapeamento, e finalmente, um bom projeto
tem que apontar o que cada parte envolvida no projeto irá
ganhar com a realização dele. Mas, é justamente ai que
começam os problemas: muitos gestores educacionais
querem fazer bonito em educação, mas não suportam a idéia
de trabalhar com indicadores.
Indicadores, para este grupo de quase-educadores, são
instrumentos perversos, que não são condizentes, que são
falhos, desumanos e etc, etc, etc. Há muitas justificativas,
para eles, que desmerecem exames como SAEB, PISA,
PROVABRASIL, IDEB e tantos outras. O que se pergunta
então é, se nenhum indicador é bom o suficiente para
mensurar realidades desajustadas, como gerenciar processos
de melhorias em educação sem indicadores? Se estes
indicadores não são bons o suficiente, caberá os críticos
deles apresentar outras formas (práticas , por favor!), de se
fazer avaliação do trabalho já realizado, ou a ser realizado
pelo consórcio, caso contrário, de nada adianta criticar. Os
consórcios de educação podem resolver problemas como
dificuldades de aprendizagem em alunos de escola básica,
pois através deles todos os municípios poderiam ter médicos,
psiquiatras, fonoaudiólogos, psicopedagogos, psicólogos,
fisioterapeutas e tantos outros profissionais que se somariam
à pratica pedagógica dos professores e sem os quais , hoje,
está se tornando quase impossível atender todas as crianças
com dificuldades de escolarização básica.
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Os consórcios também poderiam atuar no atendimento dos
transportes escolares, nos projetos de inclusão digital, nos
projetos de violência social, de lazer e cultura locais. Projetos
de educação fiscal e de educação para o meio-ambiente tem
tudo para ser um grande sucesso em cada um destes
consórcios. Mas, para isto acontecer é necessário que os
dirigentes municipais de educação coloquem seus alunos
acima de seus interesses políticos, ou façam realmente seus
interesses políticos ganharem práticas.
E, para não pensarem que estes consórcios só podem
funcionar em educação pública municipal, não podemos nos
esquecer que as escolas particulares que querem existir no
futuro terão que obrigatoriamente participar destes
consórcios. Afinal, se as empresas não entrarem nas escolas
mostrando suas atuações e seus trabalhos a escola irá formar
alunos para um mundo irreal, que não tem nenhuma conexão
com a vida social e com o ambiente de inserção do aluno.
Esta realidade já começa a ser desenhada com os novos
modelos de vestibular, com as novas formas de graduação à
distância, com os novos formatos de graduação das
universidades federais e principalmente, com as cobranças da
sociedade, por profissionais que, pelo menos, saibam em que
mundo estão vivendo. Pensem nisto!!!!
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domingo, 8 de maio de 2011

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DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

A DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM  DO ALUNO É DE RESPONSABILIDADE DA GESTÃO ESCOLAR.

            Prof. Dr. Geraldo Almeida -UFPR

Quando a escola não consegue localizar qual é a dificuldade do aluno acontece o já conhecido desserviço, ou seja, todo o tempo e o investimento feito à criança  não dará qualquer resultado visto que O ALUNO não possui condições de capturá-lo. No entanto,  o que falta, na  base do problema é um plano para localização da dificuldade que impede o aluno de aprender e consequentemente daí advém um projeto para o  atendimento e a solução do problema.
Para a superação desta realidade, minha opção é por RTI - metodologia universal desenvolvida nos Estados Unidos. RTI, sigla em inglês para Respostas às intervenções tem se apresentado como uma importante ferramenta contemporânea para as escolas inclusive brasileiras.
Sempre que falamos de algo que vem dos Estados Unidos sempre encontramos alguns leitores que já saem com as pedras indagando e atirando: - Só porque é de lá tem que ser bom?  Confesso que eu também já ocupei esta posição, mas basta abrir um pouco a guarda e entender que se eles estão onde estão, alguma coisa boa eles também sabem fazer. E se são boas, porque não acatá-las? Qual é o problema copiar algo que trará benefícios?
A metodologia de RTI propõe que os trabalhos sejam realizados a partir de fatos e de dados levantados, ou seja, diante da constatação de não aprendizagem de conteúdo, a escola pode e deve traçar um plano multidirecional  para começar as intervenções junto a criança e/ou adulto em desenvolvimento escolar. Esta metodologia prevê que os domínios de leitura e escrita, tão essências hoje, sejam alcançados por todos os alunos visto que ela propõe, para cada um,  plano diferenciado, e portanto, de acordo com suas necessidades. Sem esta competência nenhuma outra se inicia, mesmo que sejam problemas relacionados a ciências, matemática, química ou física. RTI começa e termina com domínio de leitura. A metodologia de RTI  estabelece, no entanto, quatro componentes essenciais para as respostas às intervenções. São eles:
 
Que a escola esteja preparada, profissionalmente e logisticamente,  para avaliar, reconhecer e diagnosticar a  dificuldade de aprendizagem e o comportamento que advém desses  para depois prever/planejar o sucesso de seus alunos;

Que a escola tenha rapidez na triagem dos alunos com dificuldades;

Que a escola faça efetivamente a medição entre as dificuldades apresentadas e os progressos dos alunos mediante as intervenções;

Que a escola tenha um  plano de ação, baseado em fatos  e dados, portanto repleto de  indicadores, que irão nortear as futuras ações ou até mesmo a mudança de estratégias.

Se observamos as condições colocadas e se compararmos essas condições com um plano estratégico de uma empresa, veremos uma total similaridade. E é exatamente este o princípio da coisa – tornar a escola uma empresa que produz efetivamente aquilo para o qual se apresenta: formar e educar.
Mas, neste momento, penso que inúmeros leitores devem se perguntar – Mas a escola  é uma fábrica? A escola  é uma empresa? ( Aos conservadores de plantão respondo com uma frase de Chico Buarque: ouça um bom conselho, te dou de graça, inútil dormir, porque a dor não passa, espere sentado ou você se cansa, está provado, quem espera nunca alcança). No Chile, por exemplo, as escolas possuem contadores fiscais, administradores de empresa, dentre outros e o resultado da presença destes profissionais dentro da escola levou o país em 2010 ao melhor IOH ( Índice de Oportunidade Humana)   da América latina.  85 foi  o índice de um total de 100.  ou seja, assim que somaram aos projetos de formação de valores, que lá no Chile são muitos, estes outros profissionais, os resultados se multiplicaram e entre as metodologias usadas por esses novos atores de transformação, encontra-se RTI.
Com RTI a informação levantada  destina-se a proporcionar aos educadores orientações para a implementação que, reconhecida após a investigação, passa a trazer  novas e pertinentes  práticas, baseadas em evidências. Essas práticas garantem as respostas esperadas e planejadas.
Espera-se, portanto, que este breve é útil levantamento de problemas, feito pelos professores e toda a equipe das escolas, mediante capacitação, possa servir para que eles  façam o planejamento da  RTI e procedam efetivamente a operacionalização.
O que isto também quer dizer é que não dá mais para fazer escola somente com professor, diretor e coordenador. As escolas ainda relutam e patinam nas equipes pobres e minguadas para se auto-gerenciarem. Escola feita só com essas figuras básicas não funcionam mais. A escola requer, e com urgência, outros profissionais, inclusive aqueles que costumeiramente não são lembrados. Exemplo, alguém já parou pra pensar que os professores não podem mais ficam sem terapias? Sim, professores desequilibrados e sem o menor controle emocional estão por toda a parte. Somando  essa constatação  ao pequeno número de optantes por esta profissão podemos ver a necessidade de cuidar daqueles que ainda estão nela. Alguém já parou pra observar o quanto os professores são relutantes com índices? Professor tem medo de avaliação, de índices, de indicadores, de gráficos e de tabelas sempre que esses são relacionados ao seu próprio trabalho e à sua realidade – sem generalizações, mas é fato. Tenho a impressão que alguns educadores acham que indicadores maculam o exercício da escola, mas é bom lembrar que a escola deve prestar um serviço à comunidade e este serviço precisa de qualidade, exatamente como todos os outros serviços prestados por outras empresas sociais. Porém, quando ouve-se por ai que tem uma prova disto ou daquilo para avaliar a escola, sempre surgem insurretos tentando desqualificá-las com discursos arcaicos e piegas. Porém, gerenciar dificuldades de aprendizagem e conduzir um plano para superação delas exige lida diária com avaliações, índices, indicadores, etc.Nas empresas de ponta já encontramos plano de negócios, participação nos lucros, plano de benefícios, plano de qualidade de vida dentro e fora do trabalho, mas tudo isto associados à produtividade. Produtividade é sucesso. Aprendizagem é sucesso.
Foi se o tempo que para administrar uma escola bastava conhecer a comunidade, ouvir os pais e fazer reuniões com os professores. Hoje o gestor escolar precisar conhecer profundamente de estatística e precisa reconhecer como ninguém indicadores, sejam financeiros ou educacionais. Além disto, é preciso entender de um vez por todas que nenhum gestor escolar está capacitado, ou um dia estará, para gerenciar problemas de rotina administrativa e problemas de aprendizagem dos alunos. Isso chega a me parecer uma piada pedagógica para os dias de hoje. Gestor educacional que faz de tudo, faz tudo com qual qualidade?  Fazer de tudo em uma escola é o  equivalente a dizer que um piloto de avião também poderia, ao mesmo tempo, ser também o comissário de bordo. Triste é perceber que não avançamos nada neste quesito. Ainda encontramos na realidade brasileira gestores escolares que querem nos fazer acreditar, e muitos ainda acreditam, que conseguem fazer as duas coisas com o mínimo de qualidade. Eu duvido deles – sempre!
Não se pode negar que ambas, parte administrativa  e parte pedagógica, caminham juntas afinal, enquanto o piloto conduz a aeronave a comissária garante o serviço e o vôo segue tranquilo, porém, se o piloto sair da cabine pra atender a solicitação do passageiro, o que acontecerá com o avião? E lembramos que até mesmo para esta tarefa o piloto conta com ajuda do co-piloto e a comissaria é feita por várias pessoas.
Ainda preciso lembrar que dá pena de alguns município em que a gestão escolar é feita pelos “colaboradores” de campanha dos prefeitos. Ou seja, a cada 4 anos, mudam os prefeitos e mudam também as gestões das escolas. Isto não teriam nenhum problema se os ocupantes destes cargos tivessem preparação para exercer o oficio. No entanto, o que ocorre é que nesses casos quem ocupará uma destas posições é aquele agente de campanha eleitoral que trouxe mais voto e que exigiu, como pagamento, um cargo por indicação justamente na direção de uma unidade escolar. E sabe o que mais entristece? É que o grupo de professores destas escolas não podem ou não querem fazer nada. Aceitam esta imposição. Resultado – quem não tem liderança, caminha pra onde? Quem não tem bússola se orienta de que forma?  “ o mar não ensina ninguém a navegar, diria Saramago”
Já nas escolas privadas o problema é outro, coordenadores e mais coordenadores por área ou por modalidades não desenvolvem trabalhos com sequências didáticas. Ou seja, ainda persiste em algumas escolas (ou seria muitas ) uma eterna separação entre professores de educação infantil dos demais professores. Nunca vi professores de educação infantil fazendo planejamento junto com professores de ensino fundamental, fase final ou de ensino médio. Mas o curioso é que quando falamos em competências todo mundo acredita ser uma boa direção para a escola trabalhar, mas uma competência não aconteceria ao longo de uma etapa? Não seria imprescindível que um resultado, esperado lá no ensino médio, por exemplo, fosse uma construção, passo a passo, desde a educação infantil?
A aprendizagem e o processo de formação do  aluno, seja ele uma criança ou um  adulto, depende de um conjunto de ações, que pode ser previsto e administrado pela aplicação de RTI, no entanto, para que uma dificuldade de aprendizagem seja superada, é preciso que a escola esteja certa de que o aluno que tem aprendizagem fora do padrão, tanto de tempo como de intensidade precisa desta plano de ação para ser atendido, caso contrário a escola estará tão somente trabalhando com os bons alunos, porém, excluídos aqueles que apresentam diferenças e/ou limitações.
O aluno que precisa de mais tempo para aprender certos conteúdos precisa de RTI para que ele não perca o foco e o objetivo. O aluno que só pode aprender parcialmente um conteúdo tem também a mesma  necessidade, ter uma RTI capaz de apontar, com certeza, que sua limitação não o permite seguir adiante. Assim se faz o profissionalismo que leva tantos países a se orgulhar da educação que tem e que oferece.
Penso que é preciso repensar, e com a mesma urgência, as questões  acerca dos gestores escolares. Eles precisam de mudança de visão, eles precisam de quebra de paradigmas, eles precisam se abrir para o novo, eles precisam de reciclagem urgente. Eles precisam jogar fora a visão de escola como espaço de misericórdia. Eles precisam urgentemente navegar por mares nunca antes navegados.


PALESTRA CURITIBA

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